sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

H um ano

Procurei no tempo motivos para ser diferente.
Mudei minha indumentária, minha postura.
Mudei meu jeito de falar.
Meu trabalho.
Meus horários.
Evitei meus vícios sociais e auto-destrutivos, passei meses vivendo de forma saudável, procurando em mim o que, pela vida toda, encontrei nos outros.

Emagreci, cresci, envelheci e me tornei um pouco melhor enquanto ser humano.
Encontrei o que buscava, mas não encontrei felicidade.
Consegui me perdoar, aprendi a me respeitar novamente.

Com o passar do tempo regredi, voltei a beber, fumar, sair, exceder-me.
Busquei novamente nos outros o que não encontrava.

Cometi erros tentando fazer o certo, fiz pessoas felizes e infelizes na mesma proporção.

De volta à velha rotina, passei um tempo a esmo até reiniciar um processo que, até então, fora único em minha vida.
Cortei cigarros, cortei o excesso alcoólico (ou parte dele), parei de sair "todos os dias".

Mudei, mas sou o mesmo.
Continuo diferente, continuo sendo um chiste (e jocoso).
Mas agora, consciente, não espero ser igual, não busco nos outros o que está em mim.
Pena ter demorado tanto a ter essa consciência.
Encontrei felicidade: agora preciso me reencontrar, descobri qual dos muitos “eus” é o melhor a cultivar.
Aos demais, boa sorte.

Ankh
23-01-2009

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Que venha 2009.

Paulo colecionava gibis. Via todos os tipos de filmes e gostava de conversar sobre cenas, atores. Até escolhia alguns por conta do elenco. Ouvia música alta, de vários estilos. Conversava sobre política com alguns, sobre música com outros, sobre teatro, cinema, religião, sociedade, academia, trabalho, informática, games, RPG, tecnologia, física quântica, bandas: um assunto para cada grupo isolado, um entendimento supérfluo sobre todos.

Em sociedade, doava-se.
Gastava quase todo seu tempo livre com amigos e pessoas queridas, sorrindo, brincando, fazendo piadas. Nem sempre era o centro das atenções e, em verdade, quando tentava conversar sobre algo mais sério precisava lutar pela atenção de uns poucos.
Melodramático, falava alto, gesticulava, ria escandalosamente e dava sempre um jeito de fazer um trocadilho com algo proferido.
Não negava um copo de cerveja ou dizia não a um convite para momentos boêmios.
Abusou, mas até que era controlado. Trabalhava, era bom no que fazia. Ficava sóbrio de segunda a sexta, mas os excessos de vacância nos fins de semana eram cavalares.
Só não era bom com horários, gostava de dormir.

Cresceu assim, passou a maioria dos anos distante dos mais próximos e queridos.
Era aquele que todos gostavam, mas, com a incredibilidade que a presença de uma figura ímpar nos causa quando a percebemos apenas como um par, era ausente.
Não esteve nos melhores momentos das vidas de seus convivas.
Não participou da maioria das vitórias dos familiares.
Não foi convidado aos casamentos dos amigos, nem conheceu muito bem os filhos deles.
E só se deu conta disso quando os amigos começaram a se tornar apenas amigos de alguns amigos; quando as reuniões em grupo deixaram de ser parte de sua rotina; quando o respeito tornou-se o único elo com alguns: Sem apreço, sem convívio, sem saudades.

É engraçado falar dele no passado.
É engraçado pensar que ele pode ser aquele colega de trabalho que aparece cansado nas segundas-feiras, que ele pode ser aquele melhor amigo que a gente nem sempre vê porque está muito ocupado, ou aquela namorada que a gente não diz que ama porque se sente da mesma forma que com os pais: tem tanta certeza, que pensa não precisar dizer.
É engraçado pensar que ele pode ser qualquer uma das pessoas que conhecemos, seja próxima ou distante. Amigo, parente, colega, vizinho.

É engraçado falar dele.
É engraçado, mas não feliz.
Mantenhamos o verbo no passado.

Ankh
02-01-2009

Feliz ano novo!