sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Que venha 2009.

Paulo colecionava gibis. Via todos os tipos de filmes e gostava de conversar sobre cenas, atores. Até escolhia alguns por conta do elenco. Ouvia música alta, de vários estilos. Conversava sobre política com alguns, sobre música com outros, sobre teatro, cinema, religião, sociedade, academia, trabalho, informática, games, RPG, tecnologia, física quântica, bandas: um assunto para cada grupo isolado, um entendimento supérfluo sobre todos.

Em sociedade, doava-se.
Gastava quase todo seu tempo livre com amigos e pessoas queridas, sorrindo, brincando, fazendo piadas. Nem sempre era o centro das atenções e, em verdade, quando tentava conversar sobre algo mais sério precisava lutar pela atenção de uns poucos.
Melodramático, falava alto, gesticulava, ria escandalosamente e dava sempre um jeito de fazer um trocadilho com algo proferido.
Não negava um copo de cerveja ou dizia não a um convite para momentos boêmios.
Abusou, mas até que era controlado. Trabalhava, era bom no que fazia. Ficava sóbrio de segunda a sexta, mas os excessos de vacância nos fins de semana eram cavalares.
Só não era bom com horários, gostava de dormir.

Cresceu assim, passou a maioria dos anos distante dos mais próximos e queridos.
Era aquele que todos gostavam, mas, com a incredibilidade que a presença de uma figura ímpar nos causa quando a percebemos apenas como um par, era ausente.
Não esteve nos melhores momentos das vidas de seus convivas.
Não participou da maioria das vitórias dos familiares.
Não foi convidado aos casamentos dos amigos, nem conheceu muito bem os filhos deles.
E só se deu conta disso quando os amigos começaram a se tornar apenas amigos de alguns amigos; quando as reuniões em grupo deixaram de ser parte de sua rotina; quando o respeito tornou-se o único elo com alguns: Sem apreço, sem convívio, sem saudades.

É engraçado falar dele no passado.
É engraçado pensar que ele pode ser aquele colega de trabalho que aparece cansado nas segundas-feiras, que ele pode ser aquele melhor amigo que a gente nem sempre vê porque está muito ocupado, ou aquela namorada que a gente não diz que ama porque se sente da mesma forma que com os pais: tem tanta certeza, que pensa não precisar dizer.
É engraçado pensar que ele pode ser qualquer uma das pessoas que conhecemos, seja próxima ou distante. Amigo, parente, colega, vizinho.

É engraçado falar dele.
É engraçado, mas não feliz.
Mantenhamos o verbo no passado.

Ankh
02-01-2009

Feliz ano novo!

2 comentários:

Anônimo disse...

Feliz ano novo!
Feliz tudo novo de novo!
Vivamos 2009 conjugando verbos no presente e construindo o futuro.

Unknown disse...

Paulo tem um irmão
Ele vive em um mundo distante, mas compartilha das mesmas dores e angustias
Não um irmão nascido, mas um irmão vivido,
E todos os dias quando Paulo olha pra traz, percebe que seu irmão pisa sobre suas pegadas, e quando olha para frente, percebe que esta pisando sobre as pegadas so seu irmão