quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Mais um ano passa.
Mais um fim de ano difícil - como muitos passados, como muitos que virão.

Ano de vitórias.
De construções de idéias e decisões por caminhos de vida.
Ganhei uma noiva.
Perdi uma irmã; prima, mas irmã.
Perdi um tio no dia de Natal.
Estou preocupado com um amigo que convalesce.
Coisas da vida.

Os revezes são os piores momentos para se passar.
Mas os melhores para pensar.
Não na tristeza, nem na sensação vazia de derrota ou impotência frente ao mundo.
Mas nos caminhos, nas estradas, nas congruências interpessoais.
É quando percebemos quem apazigua e quem quer apenas ver o fogo crescer.

2009 foi um ano de mudanças, o fim de ano está sendo de aprendizado diário.
De trabalho.
De sorrisos, abraços.
De desentendimentos e palavras duras trocadas.

E de tudo o que disse acima, nada justifica nenhuma atitude, palavra ou postura.
Somos o que somos.
O respeito é o pai da convivência.
Meus problemas são meus, assim continuarão.
A história de cada um é sempre diferente.

Desejo a todos que o ano acabe:
Como cada dia.
Como cada entardecer.
E que o amanhecer seja sempre mais belo e melhor que o anterior.
Que os ciclos se renovem.

Ankh
30-12-2009

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Valor-Valia-Valorar-Valorizar.

Tenho perdido algumas noites de sono pensando:
- O que faz a vida valer a pena?

O que vale?
O que significa o valor das coisas?
O peso de cada uma delas?

Uma casa, um carro.
Uma guitarra.
Um amigo, dois. Um casamento.
Viagens.
Trabalho.
Coisas e mais coisas.

Dinheiro.
Dinheiro.
Dinheiro.
Incrível como a maioria das respostas são relacionadas aos três últimos repetidos ítens.

Regras de conduta.
Regras de trabalho.
Regras e imposições de vida.
Regras.

Onde está a felicidade?
Nos sonhos ou nas necessidades?
Sonhos são necessidades?
É necessário ter sonhos?
Ou basta a realização material de ser um bom funcionário?
Não sei até onde cada uma dessas coisas vale a pena.

Bendito dia de elocubrações.
Falta um pouquinho de fé, e não falo dos outros.
Preciso entender porque os sonhos alheios nunca valem tanto quanto os nossos próprios.
Procuro interiormente entendimento sobre aquilo que está fora, afora. À forra.
Compreender a incompreensão.
Respeitar o desrespeito.
Abstrair a possessão.
Confiar na desconfiança.

Ser humano.
Ser.
Ou ter?

- O que faz a vida valer a pena?

sexta-feira, 27 de novembro de 2009













Outro tempo
n'outro instante
quem aqui vive em casa-grande?
Ser trabalho, trabalhista
na senzala fecha a vista.

Quer dinheiro, putanheiro
desce o lombo o ano inteiro.
Se revolta, fala alto
bate à mesa e toma um trago.
Quer dinheiro, punheteiro
p'ra beber o ano inteiro.

Sol e chuva e pés na lama
limpa as botas sobre a cama
no banheiro sua conduta
lava o rabo no chuveiro
quebra inteiro o que labuta.

Mas seu ato é p'ra que blefe:
Masturbar o bolso do chefe.

Ankh
23-11-2009

quarta-feira, 25 de novembro de 2009









Partindo do que faço,
já não quero mais palavras.
De poeta e escritor: professor;
de guitarrista, músico, artista: sonhador.

Gasto tempo em pensamento
Busco portas e saídas
E as histórias vividas
São como chuva sem vento:
Vem e vão com o tempo
Vão e vem com a lida.

Ver colores, ser as dores: amores;
amigo do peito, honesto-direito: respeito.
Egocêntrico, duro, racional: ista.
Falar, ouvir, opinar: ador.

Malabarista do palavreado.
Súbito lapso de hemorragia verbal.

Ankh
23-11-2009
Palavra-borracha: propaga e volta. Bate na cara e então solta.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Rotineiro

A ordem do dia é não ter momentos.
Movimentos.
A ordem da casa é manter-se ocupado – a “mente vazia é playground do capeta”.
A fórmula é não pensar: agir e fazer, técnica em sincronia.
O jeito de ser é simples, conciso: atende, resolve, senta, pasta.
No momento em que o criativo faz menção de levantar-se a hora chega.
E se não dorme, depois atrasa o laço.
O jeito é levantar o braço
Acostumar com a lida
E esquecer do tempo de tentar criar.

Ankh
28-10-2009

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Why do I keep fuckin'up?

Não importa o quanto, nunca é o bastante.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Entre amigos e pesares


Sinto saudades
Sentirei saudades.
Tudo na vida nasce, cresce, desvanece e morre.
Só consigo pensar em flores no comparativo.

A voracidade do objetivo primário em estar vivo
É objeto do luto ocidental mal resolvido
Da dificuldade em aceitar a impotência humana
- da realidade.

A todos os que vivem
Na memória, na história e no peito
Um dia espero ser digno da palavra em contrapartida.
Do respeito, do merecimento do apreço e das saudades.
Do valor do contato, das presenças.
Das pessoas mais próximas e da sutileza de olhares
Amigos: mãe, noiva e irmãos inclusos no pacote.

Da identificação.
Do conhecer além da mera visão simulada
Do paradoxo entre parecer e ser.

Sinto saudades.
Sentirei saudades.
Do respeito pelas opções difusas dos contextos alheios
Da dedicação a objetivos que vão além da mera vivência
Da admiração por insistir.

Gostaria de ser religioso para ter orado com mais afinco.
Gostaria de acreditar que eu poderia ter feito algo mais.
Sinto saudades.
Sentirei saudades.

Não encontro palavras.
Não há palavras.

Ankh
14-09-2009
Tentei escrever, mas soava cada vez mais egoísta.
Descanse em paz, Melody.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Melody

Equivalência, ambivalência
Já não vale sol e chuva
Se o tempo não converge,
E o espaço não permite,
Na memória só refúgio
Na história vida e glória.

Se o querer que dita o verbo
Conjugado no pretérito
Há o temor do vir futuro
De não poder sentir seguro
O seguir permeia o susto.

Ser presente em corpo falta
O pensamento inverso vive
O momento nunca tarda
O esperar é que aflige.
Retorne. Continue. Fique. Viva.

Ankh
08-09-2009
À minha prima Melody, que está convalescente: Fique bem.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Palavras


O entendimento é falho quando o ato consumado não compactua do pensamento: a sociedade vive em disputa pelo ser correto, não pelo interpretar do verbo propagado. E quando errado, não basta assumir: precisa ser subjugado.

Fúria, desacato: o respeito atinge o limiar tênue da incompreensão quando a insistência na palavra virulenta leva o nervo ao estresse involuntário. Discute por conseqüência, mas não justifica o fato através de atos.

Como corrigir um erro com palavras?
Como corrigir palavras com palavras?
Como corrigir erros com outros erros?

Não é possível mudar posturas sem lembrar o movimento propagador para a ausência de coerção. E na futura ação, cicatrizes. A memória é o inferno dos imperfeitos, o remorso é o purgatório dos infames, o convívio é a morte para os egoístas.

Vale o certo evolutivo que aguarda o sacrifício de todo aquele que compactua objetivos. Racionalismo e sentimento, expressividade e autoridade.
Autoridade?
Autor X idade.

Chega um tempo em que ser tratado como infante tira a calma e lavra n’alma a vontade errônea de discutir o caso. A racionalidade forte e a temeridade do silêncio provam que nem com todos os argumentos do mundo seria possível explicar que posturas pessoais normalmente confundem o entendimento das mensagens.

Se há ruído é porque não há entendimento real.
Isso preocupa: ocupa a mente com análises de situações anteriores e com probabilidades vindouras.

Faça com o outro o que gostaria que fizessem contigo.
Penso muito nisso.
Existe entendimento real?
Ankh
10-08-2009
- Feliz dia dos pais atrasado. 20 anos.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Pensamento do dia

Quem se vende pelo quê acredita é quem não acredita em nada.

21-07-2009

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Levantar soberbo do palermo gibão que da verdade foge: vende a própria carne para arriscar a sorte

Raptou-lhe a honra
Com tanto esmero que nem percebeu o fato
de que a falta de tato
Arrancou-lhe os bagos para um levantar qualquer
E se não fosse mulher
tornar-se-ía um castrate nato.

Gritou verdades
E a ausência de calma levou-lhe a razão
brigando qual fanfarrão
Não encontrou mais modo para confirmar (a) corrente
e o pensamento em semente
caiu por terra sem nenhum senão.

Não há mais escolha
Além do erro em continuar além
qual nenhum alguém
que já buscou no ato justificar silêncio
sem parecer-se tenso
seja qual for sua masmorra

O tempo é pai das decisões difíceis
e se não há discórdia
Fica na memória
como o ranso claro que nas mãos já vive:
- é resultado da falta de ética
e a liberdade poética
não se aplica no conviver real
se fizeste o mal
fará parte-negra de toda tua história.

Ankh
07-07-2009

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Muros, moradias e vontades furiosas.


Honestidade, Lealdade.
De quem é a honra?
Na verdade, ser maldade
É o que movimenta o outro ser
que só se guenta
com a vida alheia em sua sombra.


Procuro motivos para ser certo.
Costumo percorrer caminhos incertos para não ultrapassar os limites do respeito.


Hoje perdi a calma, quase a razão.
Tive vontade de agredir, transgredir.
Queria botinar o rabo do meu vizinho até que ele arrotasse borracha.

Já fui educado, comedido.
Assim como fui ensinado, tal qual minha mãe sempre o fez.

O vizinho desrespeitou-a.
Ignorou-a.
Cansei desta continuidade libertina.

Verbalizei minha raiva.
Beirei a fúria.
Cessaram-se as negociações, que inicie-se a guerra jurídica.

Amigos, colegas e conhecidos: vocês não me conhecem na revolta real.

Ankh
12-06-2009
obs.: Amo minha namorada. Queria não ter tanta raiva assustando-a neste dia.
Mas se eu pudesse, ou fosse um burro, derrubaria um muro à base de coices.

domingo, 7 de junho de 2009

Eu era o cara do compre Várzea Grande



Muito do que faço não é de fácil compreensão.
Duro, pragmático, insensível. Espinhoso.
Careço de entendimento por padecer na vontade de viver artisticamente.
Hoje vejo que todo o trabalho que tenho para proporcionar maiores chances
nesse caminho só me afasta, dia a dia, do objetivo original.
Não sou presente, não compareço a shows nem festas.
Não participo mais de grupos, não organizo eventos. Não ajudo bandas,
não assisto ensaios, não pratico em casa.
Quis fazer a vida ser ainda mais salgada para um dia, quem sabe,
gozar da felicidade de estar entre os que gosto, fazer o que quero, ter a chance de produzir aquilo que creio conseguir. Criei responsabilidades, assumi compromissos.

Não sou gênio, não tenho dons. Dediquei-me muito quando mais novo e isso me levou a algum lugar. Hoje sou diletante. Quem tem a chance de conviver com minhas produções possui consciência da decadência iminente. Não busquei fama, nem reconhecimento. Busquei fazer o que acreditava valer a pena: criar, tocar em bandas, me divertir, conhecer e viver com pessoas que valem a pena. E tive muito sucesso nisso tudo.

Vejo pessoas que seguem rumos similares aos meus e que, com o passar dos anos, se tornaram meus heróis e inspiração. Cito alguns aqui, por conta de minha necessidade em ser sincero com o que acredito: José Augusto “Cavalo”, André Salvador, Ricardo Felippo, Fabrício Roder, Rodrigo Lopes, Carlos Lobo, Luiz Paulo Magrão, Rodrigo Zuca, Jéferson Cói, Beto Loco, Gustavo Adriano (com quem aprendi a compor).
Rafael Pereira e Abner (meus reais professores).
Há muitos mais que aprecio neste caminho, mas quis citar alguns dos que me fazem acreditar que vale a pena: meus amigos músicos e musicistas.
[sim, faltam alguns de vocês aí]

E eles me fazem pensar na justiça.
O que é justiça?
O que é ser justo?

Um grande amigo, arquiteto-poeta, disse uma vez que eu era uma pessoa muito justa.
E isso trazia muito sofrimento aos que convivem comigo.
Hoje eu concordo em gênero, número, grau e marca de cerveja.

Não sou tecnicamente bom. Alguns de meus melhores alunos (parei de lecionar há anos) indiquei a professores de verdade, tenho consciência das minhas limitações.

Hoje recebi um prêmio, por júri popular, pela segunda vez em minha vida.
Não fiquei só emocionado (riam carniceiros: chorei), mas abalado. Não abracei meus amigos, não festejei o agrado de ter pessoas que gostam de coisas similares a mim, não participei. Sequer estive lá para agradecer... e isso dói. Dói lutar para ser algo e, quando vejo que estou começando a me tornar, já tenho a certeza intrínseca de que não vai durar. Dói receber a ligação de um amigo, e exemplo pessoal, e ter que recusar o convite de estar na presença dele e dos demais. Já pedi uma vez que compreendessem que eu iria parar. Não o fiz, mas também não estou continuando com dedicação real.

Gostaria de deixar aqui minha posição a alguns dos que “concorriam” comigo.
Ricardo Felippo, Sidney Duarte, Danilo Bareiro, Leôncio Salles e Manoel Izidoro: Vocês sabem que escolha de público não significa nada a respeito de quem sabe ou não tocar. Vocês sabem, de verdade, que a escolha por júri popular sempre será tendenciosa e digna apenas de análise de gosto pessoal, absolutamente não-técnico. Continuarei apreciando e me inspirando no trabalho de cada um de vocês, e, para constar, votei no Felippo. Aos demais que concorriam, creio que estávamos todos um degrau abaixo dos que citei acima.

Quanto ao público, aos que votaram, aos amigos que celebraram comigo e por mim: muito obrigado, de coração. Tenham todos longa vida, que a música continue sendo motivo para que vocês façam grandes amizades e conheçam pessoas boas.

Ankh
Aos que não entenderam a imagem: sim, eu era o cara do compre Várzea Grande. Foi uma campanha do CDL local, todos achavam a camiseta ridícula. Eu tinha umas sete, só usei elas por uns dois anos.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Hail à não linearidade das coisas

Enquanto o saber se envolve ao ignorante afeto pela auto-destruição, muralhas são erguidas com cartas de baralho - todas coringas - não confiáveis, aguardando o vento do verbo a proferir sua queda.

Em um pretexto fútil, frágil e quase ilógico, a carreira toma partida como o frango que foge à panela. Sem tormentas, o equilíbrio, além de simples, é insôsso, sem tempêro, mas consegue equipar a mente com racionalidade.

Ankh
alguns meses antes de hoje - em 2009

segunda-feira, 9 de março de 2009

Arte.
Viver em arte.

Partes:
Uma viva, outra fria;
realiza, sonha
quer ser compreendida.

Mas, no fim das contas, só gera discórdia.
Gostaria de não ser tão complicado, de não ter falhado.

Isso não é um lamento, é uma análise para cambiar direções.
E, novamente, ver aves livres voarem mais alto.

Ankh
o pé-plantado.

Foo Fighters - Come Back


Moving again
Comfort of the chase
Now and again
This my saving grace
Dead on the inside I've got nothing to prove
Keep me alive and give me something to lose
Goodbye this time I'm leaving you
I've been gone so long
So gone so long
But I will come back
Changes changing
Back and forth again
Trading places
Strangers in the end
Dead on the inside I've got nothing to prove
Keep me alive and give me something to lose
Goodbye this time I'm leaving you
I've been gone so long
So gone so long
But I will come back
I will come back for you

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Nada disso é parte do que sou, eu não faço parte desse show.

Este fim de semana foi um dos melhores que já tive musicalmente.
Ensaios, planos, duas apresentações – sendo uma em outra cidade.

Foi ótimo! - Uma verdadeira honra.

Serei grato, pela vida toda, pelos bons momentos e dedicação de cada um que me proporcionou tal felicidade.
Agora é hora de baixar as bandeiras que não sigo e respeitar as diferenças de quem as ostenta.

Pelo trabalho, pela vontade, pela disposição: sejam todos muitos felizes!

Ankh
26-02-2009
obs.: o título é frase do refrão de "Show Sinistro", da banda cuiabana Strauss.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Cortando Raízes

Falta faz estar presente
Seja etílico ou comparsa
Se o esforço é ser produto
Se a vontade já é desgraça

Alimenta a fome d’outro
Se esgueira por palavras
Já não tenta ser si próprio
Só importa com a manada

Canta
Vibra
Grita: não diz nada.
Pasta
Bebe
Urra: pau mandado.

Vai cansado da charrete
Já não agüenta o sol que arde
Se no rosto a lama bate
Puxa a corda e aperta o passo

Busca então um resultado
Não se importa qual o preço
Se seu filho perde o berço
Se da esposa perde o abraço.


Ankh
13-02-2009

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

"Guerrear pela paz é como fazer sexo pela virgindade"


Falsas bandeiras rasgadas, jogadas ao chão
De um jogo-esforço inútil: cegos em adoração
O peito ardendo em fúria só resgata a corrente:
- paz e liberdade?

(o fogo é fátuo)
Enfrentar palavras com o rosto em riste
(não nos traz ao tempo)
Incentivar o ato consciente e são
Despejar coragem se o fim se esmera
Todo fanatismo é incoerente e mal

(Jogue ao chão)
Viver não é seguir
(falsos ideais)
Ouvir e conhecer
(Incentivar a ação)
E só então saber
Mas se há preconceito a destruição é igual

Quem?
Quem é igual?
Em cada ser vivo
Haver abrigo
Sustentar morada
Derrubar muralhas

Nos olhos fracos (quem?)
Nos sentimentos sujos (quem?)
Nas atitudes poucas
E se há preconceito a destruição é igual

Lavar as mãos
Fechar os olhos
Lamber as botas e morrer sorrindo
O caminho é curto pra quem busca a sorte
Se vender é o preço dos que não se empenham
Ser produto é o fato
Esquecimento: o legado.

Ankh
Criado em 2005 ou 2006, originalmente como uma composição da Venial de nome "Falsas Bandeiras Rasgadas".
Engavetada.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

H um ano

Procurei no tempo motivos para ser diferente.
Mudei minha indumentária, minha postura.
Mudei meu jeito de falar.
Meu trabalho.
Meus horários.
Evitei meus vícios sociais e auto-destrutivos, passei meses vivendo de forma saudável, procurando em mim o que, pela vida toda, encontrei nos outros.

Emagreci, cresci, envelheci e me tornei um pouco melhor enquanto ser humano.
Encontrei o que buscava, mas não encontrei felicidade.
Consegui me perdoar, aprendi a me respeitar novamente.

Com o passar do tempo regredi, voltei a beber, fumar, sair, exceder-me.
Busquei novamente nos outros o que não encontrava.

Cometi erros tentando fazer o certo, fiz pessoas felizes e infelizes na mesma proporção.

De volta à velha rotina, passei um tempo a esmo até reiniciar um processo que, até então, fora único em minha vida.
Cortei cigarros, cortei o excesso alcoólico (ou parte dele), parei de sair "todos os dias".

Mudei, mas sou o mesmo.
Continuo diferente, continuo sendo um chiste (e jocoso).
Mas agora, consciente, não espero ser igual, não busco nos outros o que está em mim.
Pena ter demorado tanto a ter essa consciência.
Encontrei felicidade: agora preciso me reencontrar, descobri qual dos muitos “eus” é o melhor a cultivar.
Aos demais, boa sorte.

Ankh
23-01-2009

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Que venha 2009.

Paulo colecionava gibis. Via todos os tipos de filmes e gostava de conversar sobre cenas, atores. Até escolhia alguns por conta do elenco. Ouvia música alta, de vários estilos. Conversava sobre política com alguns, sobre música com outros, sobre teatro, cinema, religião, sociedade, academia, trabalho, informática, games, RPG, tecnologia, física quântica, bandas: um assunto para cada grupo isolado, um entendimento supérfluo sobre todos.

Em sociedade, doava-se.
Gastava quase todo seu tempo livre com amigos e pessoas queridas, sorrindo, brincando, fazendo piadas. Nem sempre era o centro das atenções e, em verdade, quando tentava conversar sobre algo mais sério precisava lutar pela atenção de uns poucos.
Melodramático, falava alto, gesticulava, ria escandalosamente e dava sempre um jeito de fazer um trocadilho com algo proferido.
Não negava um copo de cerveja ou dizia não a um convite para momentos boêmios.
Abusou, mas até que era controlado. Trabalhava, era bom no que fazia. Ficava sóbrio de segunda a sexta, mas os excessos de vacância nos fins de semana eram cavalares.
Só não era bom com horários, gostava de dormir.

Cresceu assim, passou a maioria dos anos distante dos mais próximos e queridos.
Era aquele que todos gostavam, mas, com a incredibilidade que a presença de uma figura ímpar nos causa quando a percebemos apenas como um par, era ausente.
Não esteve nos melhores momentos das vidas de seus convivas.
Não participou da maioria das vitórias dos familiares.
Não foi convidado aos casamentos dos amigos, nem conheceu muito bem os filhos deles.
E só se deu conta disso quando os amigos começaram a se tornar apenas amigos de alguns amigos; quando as reuniões em grupo deixaram de ser parte de sua rotina; quando o respeito tornou-se o único elo com alguns: Sem apreço, sem convívio, sem saudades.

É engraçado falar dele no passado.
É engraçado pensar que ele pode ser aquele colega de trabalho que aparece cansado nas segundas-feiras, que ele pode ser aquele melhor amigo que a gente nem sempre vê porque está muito ocupado, ou aquela namorada que a gente não diz que ama porque se sente da mesma forma que com os pais: tem tanta certeza, que pensa não precisar dizer.
É engraçado pensar que ele pode ser qualquer uma das pessoas que conhecemos, seja próxima ou distante. Amigo, parente, colega, vizinho.

É engraçado falar dele.
É engraçado, mas não feliz.
Mantenhamos o verbo no passado.

Ankh
02-01-2009

Feliz ano novo!